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+A cochonilha no mundo luso-brasileiro: o manuscrito setecentista editado por Manuel Joaquim Henriques de Paiva +

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Cochineals in the Portuguese-Brazilian world: the eighteenth-century manuscript edited by Manuel Joaquim Henriques de Paiva

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+ Clara Braz dos Santos Milena da Silveira Pereira Sobre os autores +
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Resumo

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O documento que o leitor encontrará a seguir é a transcrição inédita e modernizada do manuscrito História do descobrimento da cochonilha no Brasil, editado pelo médico e químico Manuel Joaquim Henriques de Paiva entre os anos de 1774 e 1801. O propósito de Paiva, com essa versão revista e anotada do estudo pioneiro de seu irmão, o médico José Henriques Ferreira, era estimular a cultura e o comércio da cochonilha, um inseto produtor de corante avermelhado muito requisitado na Europa. A História..., portanto, fornece indícios do papel capital dos saberes ditos científicos para o fomento e engrandecimento do Reino português e de sua principal colônia.

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história luso-brasileira; saberes científicos; cochonilha

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Abstract

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A previously unpublished, modernized transcript of the manuscript História do descobrimento da cochonilha no Brasil (History of the discovery of the cochineal in Brazil), edited by the physician and chemist Manuel Joaquim Henriques de Paiva between 1774 and 1801, is presented. By bringing out this reviewed, annotated version of the pioneering study by his brother, the physician José Henriques Ferreira, Paiva wanted to encourage the culture and trade of the cochineal, an insect that produced a red dye that was in great demand in Europe. História... thus provides indications of the key role of so-called scientific knowledge in the development and growth of the Portuguese kingdom and their primary colony.

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Portuguese-Brazilian history; scientific knowledge; cochineal

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Em 1772, o doutor José Henriques Ferreira (1740-1780) ajudou a fundar, em conjunto com o vice-rei marquês de Lavradio (1729-1790) e outros homens de ciências, a Academia Científica do Rio de Janeiro (1772-1779) e finalizou sua Dissertação sobre a cochonilha, história sobre seu descobrimento na América... Pouco tempo depois, o irmão mais jovem de Henriques Ferreira, o promissor médico e químico Manuel Joaquim Henriques de Paiva (1752-1829), reuniu, ampliou e apurou esse trabalho em um novo manuscrito, sob o título de História do descobrimento da cochonilha no Brasil..., com o propósito de “publicá-lo com toda a perfeição”. Embora Henriques Ferreira tenha dedicado “seis anos de contínuas e trabalhosas averiguações” à elaboração de seu estudo, Henriques de Paiva acreditava ser necessário realizar algumas reparações para publicar a Dissertação sobre a cochonilha... Longe de desqualificar o conhecimento científico do irmão acerca da cochonilha, Henriques de Paiva buscava precisar nesse estudo algumas informações ausentes no original, devido, sobretudo, à novidade da matéria, à “pouca exatidão com que os antigos e modernos escritores a trataram, e por [Henriques Ferreira] escrever em um país remoto, onde falta[va]m às vezes os livros de uma erudição mais curiosa” (Ferreira, s.d., fl.3).

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A despeito dos empecilhos que dificultavam o incremento dos estudos ditos científicos no Brasil em finais do século XVIII – como a falta de materiais especializados mencionada por Paiva, além, é claro, da inexistência de cursos superiores e de imprensa local –, é importante enfatizar o despertar de uma preocupação luso-brasileira no fomento desses saberes. Exemplo disso foi a empenhada atuação do vice-rei marquês de Lavradio na fundação, em seu palácio, da pioneira Academia Fluviense, Médica, Cirúrgica, Botânica e Farmacêutica, ou Academia de Medicina e História Natural do Rio de Janeiro, ou simplesmente, como ficou conhecida na historiografia, Academia Científica do Rio de Janeiro. Esse “amante das Ciências Naturais”, juntamente com médicos, químicos, naturalistas, entre outros homens de ciências formados no Velho Mundo, dedicou-se, em associação, à investigação dos reinos animal, vegetal e mineral no Rio de Janeiro e à elaboração de dissertações e memórias acerca da flora e fauna cariocas (Silva, 2013SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Cultura letrada e cultura oral no Rio de Janeiro dos vice-reis. São Paulo: Editora Unesp. 2013., p.25-33).

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Tais aspirações científicas em terras brasileiras aconteciam em simultâneo com a famigerada reforma da Universidade de Coimbra (1772) nos tempos de dom José I (1714-1777) e de seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), o marquês de Pombal. É sabido, a propósito, que o interesse pelas terras brasílicas aparece nos escritos luso-brasileiros desde o século anterior, intensificado na segunda metade do século XVIII, entre outras motivações, pela demarcação de limites entre as monarquias ibéricas deste lado do Atlântico, pela busca de um equilíbrio na balança comercial portuguesa e pelo financiamento régio de memórias acadêmicas e viagens científicas que estreitaram os laços entre Portugal e o Ultramar e buscaram promover estudos no campo das ciências e sobre a agricultura na América portuguesa (Pataca, 2011PATACA, Ermelinda Moutinho. Coletar, preparar, remeter, transportar: práticas de história natural nas viagens filosóficas portuguesas (1777-1808). Revista Brasileira de História da Ciência, v.4, n.2, p.125-138. 2011.; Raminelli, 2008RAMINELLI, Ronald. Viagens ultramarinas: monarcas, vassalos e governo a distância. São Paulo: Alameda. 2008.; Kury, 2004KURY, Lorelai. Homens de ciência no Brasil: impérios coloniais e circulação de informações (1780-1810). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.11, supl.1, p.109-129. 2004.; Domingues, 2001DOMINGUES, Ângela. Para um melhor conhecimento dos domínios coloniais: a constituição de redes de informação no Império português em finais do Setecentos. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.8, supl., p.823-838. 2001.; Serrão, 1988SERRÃO, José Vicente. O pensamento agrário setecentista (pré-fisiocrático): diagnósticos e soluções propostas. In: Cardoso, José Luís (Org.). Contribuições para a história do pensamento económico em Portugal. Lisboa: Dom Quixote. 1988., p.23-50; Silva, 2013SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Cultura letrada e cultura oral no Rio de Janeiro dos vice-reis. São Paulo: Editora Unesp. 2013., p.37).

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É importante recordar que a situação econômica de Portugal em finais do Setecentos e no alvorecer do Oitocentos não era das melhores. A produção mineradora nos sertões do Brasil havia decaído, os rendimentos do quinto eram instáveis e a concorrência estrangeira no mercado açucareiro aumentava, trazendo à tona a necessidade de incrementação da economia e do comércio. Nesse mesmo momento, nota-se o crescente intento dos monarcas e de seus representantes no além-mar – especialmente os secretários de estado e os vice-reis – de alocar o Império português ao patamar material e intelectual das grandes potências europeias, como França, Inglaterra e mesmo a Espanha. A vizinha ibérica, cabe lembrar também, investiu, desde o século XVI, no conhecimento, na descrição e no controle das riquezas naturais de suas possessões americanas, patrocinando diversas crônicas e páginas de história natural da América produzidas por cronistas, missionários, viajantes, médicos e naturalistas, que buscaram fornecer um panorama detalhado das plantas e dos animais considerados úteis à medicina, à agricultura e ao comércio (Ventura, 2016VENTURA, Antoine. Viajeros y naturalistas (s. XV-XIX, Europa-América) o cómo viajar sin precauciones por un tema torrentoso. ELOHI, n.9. Disponível em: <http://doi.org/10.4000/elohi.981. Acesso em: 19. jan. 2019. 2016.
http://doi.org/10.4000/elohi.981... +
; Fonseca, 1999FONSECA, Maria Rachel Fróes da. La construcción de la patria por el discurso científico: México y Brasil (1770-1830). Secuencia, n.45, p.5-26. 1999.). Destarte, a promoção de novas culturas, tais como o anil, o linho e a cochonilha – já explorada pelos castelhanos na América espanhola –, e o desenvolvimento de estudos científicos que visavam à melhor utilização dos recursos naturais da América portuguesa foram medidas consideradas fundamentais na tentativa de reestabelecer a economia, fomentar o comércio e adequar os saberes luso-brasileiros àqueles considerados em voga na Europa (Dias, 2005DIAS, Maria Odila da Silva. A interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda. 2005.; Kury, 2004KURY, Lorelai. Homens de ciência no Brasil: impérios coloniais e circulação de informações (1780-1810). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.11, supl.1, p.109-129. 2004.; Wehling, 1977WEHLING, Arno. O fomentismo português no final do século XVIII: doutrinas, mecanismos, exemplificações. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v.316, p.170-278. 1977.).

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Imbuídos de uma noção pragmática e utilitarista da ciência e comprometidos com as demandas de uma política de estado ilustrada que os estimulava com prêmios, cargos e benesses, os letrados luso-brasileiros – tais como os administradores que exerciam cargos políticos nos trópicos, os naturalistas e eclesiásticos formados na Coimbra reformada ou nas bibliotecas dos seminários existentes na colônia, e os integrantes das academias de caráter científico atuantes nos dois lados do Atlântico – escreveram dezenas de opúsculos, memórias acadêmicas, pareceres, cartas e relatórios destinadas a elaborar um diagnóstico do estado da monarquia com vistas ao seu progresso econômico, social, cultural e moral (Rodrigues, 2017RODRIGUES, José Damião. Horizontes de reformas e luzes: uma leitura historiográfica a partir da América portuguesa. In: Godoy, Scarlett O’Phelan; Rodríguez García, Margarita Eva (Coord.). El ocaso del Antiguo Régimen en los Imperios Ibéricos. Lima: Pontificia Universidad Católica del Peru; Lisboa: Cham. 2017., p.169; Domingues, 2001DOMINGUES, Ângela. Para um melhor conhecimento dos domínios coloniais: a constituição de redes de informação no Império português em finais do Setecentos. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.8, supl., p.823-838. 2001., p.829). Os propósitos de desenvolver um saber que instruísse o povo e promovesse o Estado e sua economia foram, portanto, o que homens como José Henriques Ferreira e Manuel Joaquim Henriques de Paiva buscaram implementar nos seus estudos sobre a cochonilha.

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Os irmãos Henriques de Paiva e Henriques Ferreira, formados na Universidade de Coimbra, provinham de uma tradicional família de médicos, natural da antiga vila portuguesa de Castelo Branco.11 Para mais informações acerca da família de Manuel Henriques Ferreira, conferir, especialmente, Morais, Dias (1955). Entre os ilustres representantes dessa família estavam o pai, cirurgião, boticário e cristão-novo Antônio Ribeiro Paiva (1721-?), os irmãos médicos Francisco Antônio Henriques de Paiva (1757-1831) e Filipe Joaquim Henriques de Paiva (?-?), além do conhecido nome das ciências naturais, seu tio, Antônio Nunes Ribeiro Sanches (1699-1782). José Henriques Ferreira foi o primeiro a aportar em solo americano, em 1763, em companhia do então governador da Bahia, o segundo marquês de Lavradio, Luís de Almeida Portugal Soares de Mascarenhas, para atuar como médico do presídio e comissário do físico-mor do reino. Em 1769, acompanhando a ascensão do marquês de Lavradio, agora como vice-rei do Brasil (1769-1779), Ferreira passou a ocupar, no Rio de Janeiro, o cargo de primeiro médico do Hospital Real Militar e Ultramar, e trouxe para o Brasil o pai, Antônio Ribeiro Paiva, e o irmão Manuel Joaquim Henriques de Paiva, de apenas 17 anos de idade (Dias, 1959DIAS, José Lopes. Duas cartas inéditas do Dr. José Henriques Ferreira, comissário do físico-mor e médico do vice-rei do Brasil, a Ribeiro Sanches. Imprensa Médica (separata). 1959., p.2-3).

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A primeira estada do jovem irmão em terras do Brasil foi curta, retornando para Portugal, em 1772, pouco tempo depois da fundação da Academia Científica, para ingressar na Universidade de Coimbra, onde se formou em medicina, em 1781. Henriques de Paiva, além de atuar como médico, químico e ocupar diversos cargos e funções em Portugal e no Brasil,22 Manuel Henriques de Paiva foi demonstrador de química e história natural na Universidade de Coimbra, sócio, juntamente com o irmão e o pai, da referida Academia Científica, ocupando o posto de diretor de farmácia; foi, igualmente, sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, da Academia Real das Ciências da Suécia e da Academia Real de Medicina de Madri; ocupou as funções de médico da Casa Real e deputado ordinário da Real Junta do Proto-Medicato. Em 1808, foi preso por ordem do secretário de Estado dos Negócios do Reino, por ser considerado partidário das ideias napoleônicas, e, em 1809, foi sentenciado a cumprir degredo no Ultramar, ocasião em que regressou ao Brasil. De volta aos trópicos, Henriques de Paiva reconstituiu sua carreira; ocupou, em 1820, a cadeira de Matéria Médica e Farmácia no Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia e aqui permaneceu até o fim da sua vida. Cf. Morais, Dias (1955, p.232-250); Araújo (2017, p.99); Filgueiras (1991); Marques (2005); Paiva (2015). escreveu, editou e traduziu uma vasta obra sobre medicina, química, farmacopeia, botânica e história natural, e foi o principal organizador e divulgador da obra do irmão (Pita, 1996PITA, João Rui. Farmácia, medicina e saúde pública em Portugal (1772-1836). Coimbra: Minerva. 1996., p.177), esforçando-se para tornar públicos estudos como Discurso crítico em que se mostra o dano que tem feito aos doentes, e aos progressos da medicina em todos os tempos, a introdução, e uso de remédios de segredo, e composições ocultas, não só pelos charlatões, e vagamundos, mas também pelos médicos, que os têm imitado, publicado com José Henriques Ferreira, em 1785, e a Dissertação sobre a cochonilha... (Ferreira, 1772FERREIRA, José Henriques. Dissertação sobre a cochonilha. História do seu descobrimento na América Portuguesa, escrita por José Henriques Ferreira, médico pela Universidade de Coimbra e sócio da Academia de Suécia etc. etc. Oferecida Ao Ilmo. e Exmo. Sr. Marquês de Anjeja do Conselho de Sua Majestade Fidma. Presidente do Real Erário, inele seu Lugar Ten. e Inspetor da Marinha etc. etc. etc. BR RJANRIO RD.0.DAG.41 (Arquivo Nacional, Rio de Janeiro). [s.l.]: [s.n.] 1772.), trabalho que alimentou o manuscrito História da cochonilha no Brasil... (Ferreira, s.d.), em que trata do modo de cultivar, propagar e colher um inseto que produzia uma substância “avermelhada”, muito rentável no mercado têxtil europeu pelas suas propriedades corantes, que passou a despertar o interesse comercial português, especialmente na segunda metade do Setecentos.

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Assim, os estudos sobre a cochonilha no Brasil foram sistematizados com as pesquisas de Henriques Ferreira, no auge da chamada política fomentista33 Arno Wehling (1977, p.171) destaca que o apogeu “da política fomentista em relação ao anil e à cochonilha situou-se entre 1769 e 1790”. portuguesa, e resultaram na mencionada Dissertação sobre a cochonilha... (Ferreira, 1772FERREIRA, José Henriques. Dissertação sobre a cochonilha. História do seu descobrimento na América Portuguesa, escrita por José Henriques Ferreira, médico pela Universidade de Coimbra e sócio da Academia de Suécia etc. etc. Oferecida Ao Ilmo. e Exmo. Sr. Marquês de Anjeja do Conselho de Sua Majestade Fidma. Presidente do Real Erário, inele seu Lugar Ten. e Inspetor da Marinha etc. etc. etc. BR RJANRIO RD.0.DAG.41 (Arquivo Nacional, Rio de Janeiro). [s.l.]: [s.n.] 1772..) Até então, a produção e o comércio do corante extraído da cochonilha utilizado em Portugal e em suas possessões eram realizados pelos espanhóis no México,44 A propósito da cultura da cochonilha na América e sua importância para o comércio dos impérios português e espanhol, conferir o estudo da historiadora Ana Filipa Albano Serrano (2017). como bem lembra Henriques Ferreira no estudo aqui transcrito, a saber: “os castelhanos, que não têm os olhos mais perspicazes que nós, souberam fazer dos produtos da História Natural da sua América um negócio de muito rendimento para eles e de muita utilidade para a Europa” (Ferreira, s.d., fl.33). Daí a importância conferida pelos irmãos e pelo próprio vice-rei do Brasil às pesquisas, ao cultivo e à utilidade da cochonilha na América portuguesa (Relatório..., 1812RELATÓRIO... Relatório do marquês de Lavradio, vice-rei do Rio de Janeiro, entregando o Governo a Luiz de Vasconcellos e Souza, que o sucedeu no vice-reinado. Revista Trimensal de História e Geografia, ou Jornal do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. t.4. 1812., p.473-474), pois, se a cultura fosse bem-sucedida, os portugueses não precisariam adquirir o corante de estrangeiros, estimulando a produção local, o seu comércio e, por conseguinte, o aumento da riqueza do Estado português.

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Além dos benefícios econômicos que tal estudo poderia trazer para Portugal e sua principal colônia – vantagens que conferem à História do descobrimento da cochonilha no Brasil... um lugar importante nas produções científicas a serviço do Reino –, outro mérito da obra esteve nas notas de rodapé, grande parte delas produzida por Henriques de Paiva na edição do manuscrito aqui transcrita, em que é possível encontrar um verdadeiro histórico dos estudos sobre a cochonilha, e mesmo de história natural, até aquele momento. O esforço do irmão mais novo para dar a conhecer esse produto era tamanho, que, em suas exaustivas notas, é possível encontrar desde afirmações como as de Pierre Pomet (1658-1699), farmacêutico francês o qual, na sua História geral das drogas (de 1694), dizia ser a cochonilha uma semente, ou as do naturalista holandês Anton van Leeuwenhoek (1632-1723), que, num primeiro momento, também definiu a cochonilha, depois de observá-la no seu famoso microscópio, como um fruto; passando por Charles Plumier (1646-1704), monge botânico francês que, na Descrição das plantas da América (de 1693), declarou ser a cochonilha um vivente; até as definições mais claras de cronistas espanhóis como Francisco Hernández de Toledo (1517-1587), padre José de Acosta (1539-1600) e Antônio de Herrera (1559-1625) e de outros homens de ciências como Nicolaas Hartsoeker (1656-1725), Philipe de La Hire (1640-1718) e Étienne Louis Geoffroy (1725-1810). Sem esquecer, é claro, a classificação de Carl von Lineu (1707-1778) no seu célebre Systema Naturae, de que Paiva chega a questionar algumas definições do conhecido naturalista sueco referentes à classe e ao corpo do inseto.

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As tentativas de publicação dos estudos sobre a cochonilha, ou partes deles, portanto, não foram poucas. Em 1774, o próprio Henriques Ferreira exprimia o desejo de imprimir sua Dissertação sobre a cochonilha..., com o intuito de difundir com mais eficácia as propriedades da cochonilha produzida no Brasil e as instruções para o seu desenvolvimento no reino e na colônia.55 Em carta de 1774, enviada do Rio de Janeiro a Lisboa para seu tio e médico Antônio Ribeiro Sanches, José Henriques Ferreira faz a seguinte afirmação acerca da sua dissertação: “Ultimamente este ano descobrimos a cochonilha em Santa Catarina e Rio Grande, que não sabiam o que era, ainda que as mulheres tingiam saias e lenços como lá; e a planta onde se criam os tais bichos remeti para Lisboa e aqui tenho no meu quintal a planta que me remeteram de Santa Catarina, na qual há poucos dias vi nascer, com grande gosto meu, muitos bichinhos, e depois de feitas mais algumas averiguações faço tenção [de] publicar sobre ela uma dissertação, pois o que muitos naturalistas têm escrito a respeito do modo da sua produção é errado e muito à parte” (Dias, 1959, p.9). No entanto, foi Henriques de Paiva quem buscou levar a cabo tal empreitada. Embora não seja possível afirmar a data precisa da elaboração da História do descobrimento da cochonilha no Brasil..., é provável que Henriques de Paiva tenha realizado a organização e a revisão da obra do irmão entre 1774 e 1801, período em que exerceu os cargos de demonstrador real da química (1773-1777) e de professor da cadeira de farmácia na Universidade de Coimbra (1801), atividades descritas na folha de rosto daquele que acreditamos ser o manuscrito original da obra, localizado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) (Ferreira, s.d.). Há, aliás, outro manuscrito da História do descobrimento da cochonilha no Brasil... sob a guarda da Academia das Ciências de Lisboa (ACL), que, muito provavelmente, é uma cópia revisada para ser impressa na coleção de memórias dessa instituição (Ferreira, 1780-1811). Apesar de essa versão não conter datação, sabemos que está anexada ao conjunto de memórias “que não tiveram lugar nas coleções da Academia” elaboradas entre 1780 e 1811. Ademais, encontramos a mesma referência presente no manuscrito do ANTT aos cargos exercidos por Henriques de Paiva, o que nos leva a crer que a cópia foi redigida pouco tempo depois do manuscrito original.

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Ao compararmos os dois manuscritos mencionados da História do descobrimento da cochonilha no Brasil... e o da Dissertação sobre a cochonilha..., de 1772, notamos que a versão do ANTT é a mais completa, contendo não só as notas de rodapé elaboradas por José Henriques Ferreira, como também aquelas formuladas por Manuel Henriques de Paiva. Além disso, o manuscrito do ANTT reproduz a mesma dedicatória ao marquês de Angeja (1716-1788), presente na Dissertação sobre a cochonilha..., solicitando a proteção necessária para a impressão. Tal dedicatória, vale destacar, talvez tenha sido suprimida no manuscrito da ACL pelo simples fato de que, àquela altura, este seria impresso nas Memórias organizadas pelos membros da Academia e, portanto, já não demandava a busca de um patrono. Ainda sobre nossa proposição de que a versão da História do descobrimento da cochonilha no Brasil... localizada na ACL seja uma cópia, é importante mencionar que, na escrita, encontramos palavras e frases invertidas e algumas passagens suprimidas ou complementadas, demonstrando, assim, tratar-se de uma transcrição do documento do ANTT.

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Nos séculos seguintes ao manuscrito, pois, foram localizados alguns poucos fragmentos publicados da História do descobrimento da cochonilha no Brasil.... O mais citado entre os estudiosos, e frequentemente confundido com uma transcrição desse documento, é o Sumário da História do descobrimento da cochonilha no Brasil, publicado por Henriques de Paiva, em 1814, no jornal O Patriota (Paiva, 1814PAIVA, Manuel Henriques de. Sumário da história do descobrimento da cochonilha no Brasil, e das observações que sobre ela fez no Rio de Janeiro o dr. José Henriques Ferreira, médico do vice-rei o marquês do Lavradio. O Patriota, n.1. jan.-fev. 1814., p.3-30). Esse Sumário..., como o próprio título sugere, tinha como propósito sintetizar os principais aspectos da história da cochonilha no Brasil. Uma centúria depois, foi publicada uma obra intitulada Coleção de opúsculos sobre a cochonilha. Esse documento da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) – sem data precisa, local e editor – possui apenas alguns trechos da Dissertação sobre a cochonilha... (Ferreira, 19--) de Henriques Ferreira; o restante provavelmente se perdeu. Assim, malgrado os esforços empreendidos por Henriques de Paiva e pelo próprio Henriques Ferreira, o trabalho na íntegra sobre a cochonilha, ou melhor, a História do descobrimento da cochonilha no Brasil... permanecia ainda em manuscrito.

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O documento que o leitor encontrará a seguir é, portanto, a edição inédita, modernizada e completa da História do descobrimento da cochonilha no Brasil..., elaborada a partir do cotejamento de dois manuscritos organizados por Manuel Joaquim Henriques de Paiva entre o final do século XVIII e o alvorecer do XIX.66 Optamos por modernizar a linguagem dos manuscritos cotejados a fim de tornar a leitura da presente edição mais fluida. No entanto, tivemos sempre a preocupação de preservar as peculiaridades dos documentos. As inclusões de palavras, frases e símbolos foram sinalizadas e justificadas nas notas de rodapé. Tal edição baseou-se, pois, na transcrição do manuscrito matriz existente no ANTT e na inclusão de algumas passagens modificadas ou acrescentadas pelo editor da obra, e existentes apenas no documento da ACL.

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AGRADECIMENTOS

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Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp n.17/01498-3) o financiamento das pesquisas que resultaram neste artigo; ao nosso grupo de pesquisa “Escritos sobre os Novos Mundos” (Fapesp n.13/14786-6), bem como à Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), à Academia de Ciências de Lisboa (ACL), ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) e ao Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ), instituições que forneceram os documentos utilizados na presente edição.

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REFERÊNCIAS

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  • ARAÚJO, Ana Cristina (Coord.). A universidade pombalina: ciência, território e coleções científicas. Coimbra: Universidade de Coimbra. 2017.
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  • DIAS, José Lopes. Duas cartas inéditas do Dr. José Henriques Ferreira, comissário do físico-mor e médico do vice-rei do Brasil, a Ribeiro Sanches. Imprensa Médica (separata). 1959.
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  • DIAS, Maria Odila da Silva. A interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda. 2005.
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  • DOMINGUES, Ângela. Para um melhor conhecimento dos domínios coloniais: a constituição de redes de informação no Império português em finais do Setecentos. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.8, supl., p.823-838. 2001.
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  • FERREIRA, José Henriques. Dissertação sobre a cochonilha; história do seu descobrimento na América Portuguesa. In: Coleção de opúsculos sobre a cochonilha. (Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa). [s.l.]: [s.n.] 19--.
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  • FERREIRA, José Henriques. História do descobrimento da cochonilha no Brasil da sua natureza, geração, criação, colheita e utilidades. Escrita por José Henriques Ferreira, filósofo e médico, sócio e correspondente da Academia Real das Ciências da Suécia, sócio da Academia Real da Medicina de Madrid, presidente e fundador da Academia de Medicina e História Natural do Rio de Janeiro. Publicada e anotada por seu irmão Manoel Joaquim Henriques de Paiva, sócio das mesmas academias, demonstrador real da química e mestre do Laboratório na Universidade de Coimbra, professor ordinário de farmácia e química etc. In: Memórias de física, e econômicas que não tiveram lugar nas coleções da Academia. t.2. Manuscritos da Série Azul, ms n.374, fl.315-347 (Academia de Ciências de Lisboa, Lisboa). 1780-1811.
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  • FERREIRA, José Henriques. Dissertação sobre a cochonilha. História do seu descobrimento na América Portuguesa, escrita por José Henriques Ferreira, médico pela Universidade de Coimbra e sócio da Academia de Suécia etc. etc. Oferecida Ao Ilmo. e Exmo. Sr. Marquês de Anjeja do Conselho de Sua Majestade Fidma. Presidente do Real Erário, inele seu Lugar Ten. e Inspetor da Marinha etc. etc. etc. BR RJANRIO RD.0.DAG.41 (Arquivo Nacional, Rio de Janeiro). [s.l.]: [s.n.] 1772.
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  • FERREIRA, José Henriques. História do descobrimento da cochonilha no Brasil, da sua natureza, geração, criação, colheita e utilidades etc., escrita por José Henriques Ferreira, filósofo e médico, sócio e correspondente da Academia Real das Ciências da Suécia, sócio da Academia Real de Medicina de Madrid, presidente e fundador da Academia de Medicina e Historia Natural do Rio de Janeiro, etc., etc., etc.: Por M * J* H* P*, sócio das mesmas academias, demonstrador real da química, e mestre do Laboratório Químico na Universidade de Coimbra, profesor ordinário de farmácia e química etc., etc., etc. Manuscritos da Livraria, n.0758 (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa). s.l.: s.n. s.d.
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  • FILGUEIRAS, Carlos A.L. As vicissitudes da ciência periférica: a vida e a obra de Manoel Joaquim Henriques de Paiva. Química Nova, v.14, n.2, p.133-141. 1991.
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  • FONSECA, Maria Rachel Fróes da. La construcción de la patria por el discurso científico: México y Brasil (1770-1830). Secuencia, n.45, p.5-26. 1999.
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  • KURY, Lorelai. Homens de ciência no Brasil: impérios coloniais e circulação de informações (1780-1810). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.11, supl.1, p.109-129. 2004.
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  • MARQUES, Vera Regina Beltrão. Escola de homens de ciência: a Academia Científica do Rio de Janeiro, 1772-1779. Educar, n.25, p.39-57. 2005.
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  • MORAIS, Francisco; DIAS, José Lopes. Estudantes da Universidade de Coimbra naturais de Castelo Branco. Coimbra: Tipografia Minerva. 1955.
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  • PAIVA, Manuel Henriques de. Sumário da história do descobrimento da cochonilha no Brasil, e das observações que sobre ela fez no Rio de Janeiro o dr. José Henriques Ferreira, médico do vice-rei o marquês do Lavradio. O Patriota, n.1. jan.-fev. 1814.
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  • PITA, João Rui. Farmácia, medicina e saúde pública em Portugal (1772-1836). Coimbra: Minerva. 1996.
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  • RAMINELLI, Ronald. Viagens ultramarinas: monarcas, vassalos e governo a distância. São Paulo: Alameda. 2008.
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  • WEHLING, Arno. O fomentismo português no final do século XVIII: doutrinas, mecanismos, exemplificações. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v.316, p.170-278. 1977.
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NOTAS

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    Para mais informações acerca da família de Manuel Henriques Ferreira, conferir, especialmente, Morais, Dias (1955).
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    Manuel Henriques de Paiva foi demonstrador de química e história natural na Universidade de Coimbra, sócio, juntamente com o irmão e o pai, da referida Academia Científica, ocupando o posto de diretor de farmácia; foi, igualmente, sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, da Academia Real das Ciências da Suécia e da Academia Real de Medicina de Madri; ocupou as funções de médico da Casa Real e deputado ordinário da Real Junta do Proto-Medicato. Em 1808, foi preso por ordem do secretário de Estado dos Negócios do Reino, por ser considerado partidário das ideias napoleônicas, e, em 1809, foi sentenciado a cumprir degredo no Ultramar, ocasião em que regressou ao Brasil. De volta aos trópicos, Henriques de Paiva reconstituiu sua carreira; ocupou, em 1820, a cadeira de Matéria Médica e Farmácia no Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia e aqui permaneceu até o fim da sua vida. Cf. Morais, Dias (1955, p.232-250); Araújo (2017ARAÚJO, Ana Cristina (Coord.). A universidade pombalina: ciência, território e coleções científicas. Coimbra: Universidade de Coimbra. 2017., p.99); Filgueiras (1991)FILGUEIRAS, Carlos A.L. As vicissitudes da ciência periférica: a vida e a obra de Manoel Joaquim Henriques de Paiva. Química Nova, v.14, n.2, p.133-141. 1991.; Marques (2005)MARQUES, Vera Regina Beltrão. Escola de homens de ciência: a Academia Científica do Rio de Janeiro, 1772-1779. Educar, n.25, p.39-57. 2005.; Paiva (2015).
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    Arno Wehling (1977WEHLING, Arno. O fomentismo português no final do século XVIII: doutrinas, mecanismos, exemplificações. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v.316, p.170-278. 1977., p.171) destaca que o apogeu “da política fomentista em relação ao anil e à cochonilha situou-se entre 1769 e 1790”.
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    A propósito da cultura da cochonilha na América e sua importância para o comércio dos impérios português e espanhol, conferir o estudo da historiadora Ana Filipa Albano Serrano (2017)SERRANO, Ana Filipa Albano. The red road of the Iberian expansion: cochineal and the global dye trade. Tese (Doutorado em História dos descobrimentos e da expansão portuguesa) – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa. 2017..
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    Em carta de 1774, enviada do Rio de Janeiro a Lisboa para seu tio e médico Antônio Ribeiro Sanches, José Henriques Ferreira faz a seguinte afirmação acerca da sua dissertação: “Ultimamente este ano descobrimos a cochonilha em Santa Catarina e Rio Grande, que não sabiam o que era, ainda que as mulheres tingiam saias e lenços como lá; e a planta onde se criam os tais bichos remeti para Lisboa e aqui tenho no meu quintal a planta que me remeteram de Santa Catarina, na qual há poucos dias vi nascer, com grande gosto meu, muitos bichinhos, e depois de feitas mais algumas averiguações faço tenção [de] publicar sobre ela uma dissertação, pois o que muitos naturalistas têm escrito a respeito do modo da sua produção é errado e muito à parte” (Dias, 1959, p.9).
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    Optamos por modernizar a linguagem dos manuscritos cotejados a fim de tornar a leitura da presente edição mais fluida. No entanto, tivemos sempre a preocupação de preservar as peculiaridades dos documentos. As inclusões de palavras, frases e símbolos foram sinalizadas e justificadas nas notas de rodapé.
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Datas de Publicação

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  • +Publicação nesta coleção
    23 Mar 2020
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  • +Data do Fascículo
    Jan-Mar 2020
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Histórico

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  • +Recebido
    29 Jul 2018
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  • +Aceito
    4 Abr 2019
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O documento que o leitor encontrará a seguir é a transcrição inédita e modernizada do manuscrito História do descobrimento da cochonilha no Brasil, editado pelo médico e químico Manuel Joaquim Henriques de Paiva entre os anos de 1774 e 1801. O propósito de Paiva, com essa versão revista e anotada do estudo pioneiro de seu irmão, o médico José Henriques Ferreira, era estimular a cultura e o comércio da cochonilha, um inseto produtor de corante avermelhado muito requisitado na Europa. A História..., portanto, fornece indícios do papel capital dos saberes ditos científicos para o fomento e engrandecimento do Reino português e de sua principal colônia.

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+ + Abstract +

A previously unpublished, modernized transcript of the manuscript História do descobrimento da cochonilha no Brasil (History of the discovery of the cochineal in Brazil), edited by the physician and chemist Manuel Joaquim Henriques de Paiva between 1774 and 1801, is presented. By bringing out this reviewed, annotated version of the pioneering study by his brother, the physician José Henriques Ferreira, Paiva wanted to encourage the culture and trade of the cochineal, an insect that produced a red dye that was in great demand in Europe. História... thus provides indications of the key role of so-called scientific knowledge in the development and growth of the Portuguese kingdom and their primary colony.

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+ + história luso-brasileira + saberes científicos + cochonilha + + + Portuguese-Brazilian history + scientific knowledge + cochineal + + + + Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo + 17/01498-3 + + + Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo + 13/14786-6 + + + + + + + + + +
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Em 1772, o doutor José Henriques Ferreira (1740-1780) ajudou a fundar, em conjunto com o vice-rei marquês de Lavradio (1729-1790) e outros homens de ciências, a Academia Científica do Rio de Janeiro (1772-1779) e finalizou sua Dissertação sobre a cochonilha, história sobre seu descobrimento na América... Pouco tempo depois, o irmão mais jovem de Henriques Ferreira, o promissor médico e químico Manuel Joaquim Henriques de Paiva (1752-1829), reuniu, ampliou e apurou esse trabalho em um novo manuscrito, sob o título de História do descobrimento da cochonilha no Brasil..., com o propósito de “publicá-lo com toda a perfeição”. Embora Henriques Ferreira tenha dedicado “seis anos de contínuas e trabalhosas averiguações” à elaboração de seu estudo, Henriques de Paiva acreditava ser necessário realizar algumas reparações para publicar a Dissertação sobre a cochonilha... Longe de desqualificar o conhecimento científico do irmão acerca da cochonilha, Henriques de Paiva buscava precisar nesse estudo algumas informações ausentes no original, devido, sobretudo, à novidade da matéria, à “pouca exatidão com que os antigos e modernos escritores a trataram, e por [Henriques Ferreira] escrever em um país remoto, onde falta[va]m às vezes os livros de uma erudição mais curiosa” (Ferreira, s.d., fl.3).

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A despeito dos empecilhos que dificultavam o incremento dos estudos ditos científicos no Brasil em finais do século XVIII – como a falta de materiais especializados mencionada por Paiva, além, é claro, da inexistência de cursos superiores e de imprensa local –, é importante enfatizar o despertar de uma preocupação luso-brasileira no fomento desses saberes. Exemplo disso foi a empenhada atuação do vice-rei marquês de Lavradio na fundação, em seu palácio, da pioneira Academia Fluviense, Médica, Cirúrgica, Botânica e Farmacêutica, ou Academia de Medicina e História Natural do Rio de Janeiro, ou simplesmente, como ficou conhecida na historiografia, Academia Científica do Rio de Janeiro. Esse “amante das Ciências Naturais”, juntamente com médicos, químicos, naturalistas, entre outros homens de ciências formados no Velho Mundo, dedicou-se, em associação, à investigação dos reinos animal, vegetal e mineral no Rio de Janeiro e à elaboração de dissertações e memórias acerca da flora e fauna cariocas (Silva, 2013, p.25-33).

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Tais aspirações científicas em terras brasileiras aconteciam em simultâneo com a famigerada reforma da Universidade de Coimbra (1772) nos tempos de dom José I (1714-1777) e de seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), o marquês de Pombal. É sabido, a propósito, que o interesse pelas terras brasílicas aparece nos escritos luso-brasileiros desde o século anterior, intensificado na segunda metade do século XVIII, entre outras motivações, pela demarcação de limites entre as monarquias ibéricas deste lado do Atlântico, pela busca de um equilíbrio na balança comercial portuguesa e pelo financiamento régio de memórias acadêmicas e viagens científicas que estreitaram os laços entre Portugal e o Ultramar e buscaram promover estudos no campo das ciências e sobre a agricultura na América portuguesa (Pataca, 2011; Raminelli, 2008; Kury, 2004; Domingues, 2001; Serrão, 1988, p.23-50; Silva, 2013, p.37).

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É importante recordar que a situação econômica de Portugal em finais do Setecentos e no alvorecer do Oitocentos não era das melhores. A produção mineradora nos sertões do Brasil havia decaído, os rendimentos do quinto eram instáveis e a concorrência estrangeira no mercado açucareiro aumentava, trazendo à tona a necessidade de incrementação da economia e do comércio. Nesse mesmo momento, nota-se o crescente intento dos monarcas e de seus representantes no além-mar – especialmente os secretários de estado e os vice-reis – de alocar o Império português ao patamar material e intelectual das grandes potências europeias, como França, Inglaterra e mesmo a Espanha. A vizinha ibérica, cabe lembrar também, investiu, desde o século XVI, no conhecimento, na descrição e no controle das riquezas naturais de suas possessões americanas, patrocinando diversas crônicas e páginas de história natural da América produzidas por cronistas, missionários, viajantes, médicos e naturalistas, que buscaram fornecer um panorama detalhado das plantas e dos animais considerados úteis à medicina, à agricultura e ao comércio (Ventura, 2016; Fonseca, 1999). Destarte, a promoção de novas culturas, tais como o anil, o linho e a cochonilha – já explorada pelos castelhanos na América espanhola –, e o desenvolvimento de estudos científicos que visavam à melhor utilização dos recursos naturais da América portuguesa foram medidas consideradas fundamentais na tentativa de reestabelecer a economia, fomentar o comércio e adequar os saberes luso-brasileiros àqueles considerados em voga na Europa (Dias, 2005; Kury, 2004; Wehling, 1977).

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Imbuídos de uma noção pragmática e utilitarista da ciência e comprometidos com as demandas de uma política de estado ilustrada que os estimulava com prêmios, cargos e benesses, os letrados luso-brasileiros – tais como os administradores que exerciam cargos políticos nos trópicos, os naturalistas e eclesiásticos formados na Coimbra reformada ou nas bibliotecas dos seminários existentes na colônia, e os integrantes das academias de caráter científico atuantes nos dois lados do Atlântico – escreveram dezenas de opúsculos, memórias acadêmicas, pareceres, cartas e relatórios destinadas a elaborar um diagnóstico do estado da monarquia com vistas ao seu progresso econômico, social, cultural e moral (Rodrigues, 2017, p.169; Domingues, 2001, p.829). Os propósitos de desenvolver um saber que instruísse o povo e promovesse o Estado e sua economia foram, portanto, o que homens como José Henriques Ferreira e Manuel Joaquim Henriques de Paiva buscaram implementar nos seus estudos sobre a cochonilha.

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Os irmãos Henriques de Paiva e Henriques Ferreira, formados na Universidade de Coimbra, provinham de uma tradicional família de médicos, natural da antiga vila portuguesa de Castelo Branco.1 Entre os ilustres representantes dessa família estavam o pai, cirurgião, boticário e cristão-novo Antônio Ribeiro Paiva (1721-?), os irmãos médicos Francisco Antônio Henriques de Paiva (1757-1831) e Filipe Joaquim Henriques de Paiva (?-?), além do conhecido nome das ciências naturais, seu tio, Antônio Nunes Ribeiro Sanches (1699-1782). José Henriques Ferreira foi o primeiro a aportar em solo americano, em 1763, em companhia do então governador da Bahia, o segundo marquês de Lavradio, Luís de Almeida Portugal Soares de Mascarenhas, para atuar como médico do presídio e comissário do físico-mor do reino. Em 1769, acompanhando a ascensão do marquês de Lavradio, agora como vice-rei do Brasil (1769-1779), Ferreira passou a ocupar, no Rio de Janeiro, o cargo de primeiro médico do Hospital Real Militar e Ultramar, e trouxe para o Brasil o pai, Antônio Ribeiro Paiva, e o irmão Manuel Joaquim Henriques de Paiva, de apenas 17 anos de idade (Dias, 1959, p.2-3).

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A primeira estada do jovem irmão em terras do Brasil foi curta, retornando para Portugal, em 1772, pouco tempo depois da fundação da Academia Científica, para ingressar na Universidade de Coimbra, onde se formou em medicina, em 1781. Henriques de Paiva, além de atuar como médico, químico e ocupar diversos cargos e funções em Portugal e no Brasil,2 escreveu, editou e traduziu uma vasta obra sobre medicina, química, farmacopeia, botânica e história natural, e foi o principal organizador e divulgador da obra do irmão (Pita, 1996, p.177), esforçando-se para tornar públicos estudos como Discurso crítico em que se mostra o dano que tem feito aos doentes, e aos progressos da medicina em todos os tempos, a introdução, e uso de remédios de segredo, e composições ocultas, não só pelos charlatões, e vagamundos, mas também pelos médicos, que os têm imitado, publicado com José Henriques Ferreira, em 1785, e a Dissertação sobre a cochonilha... (Ferreira, 1772), trabalho que alimentou o manuscrito História da cochonilha no Brasil... (Ferreira, s.d.), em que trata do modo de cultivar, propagar e colher um inseto que produzia uma substância “avermelhada”, muito rentável no mercado têxtil europeu pelas suas propriedades corantes, que passou a despertar o interesse comercial português, especialmente na segunda metade do Setecentos.

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Assim, os estudos sobre a cochonilha no Brasil foram sistematizados com as pesquisas de Henriques Ferreira, no auge da chamada política fomentista3 portuguesa, e resultaram na mencionada Dissertação sobre a cochonilha... (Ferreira, 1772.) Até então, a produção e o comércio do corante extraído da cochonilha utilizado em Portugal e em suas possessões eram realizados pelos espanhóis no México,4 como bem lembra Henriques Ferreira no estudo aqui transcrito, a saber: “os castelhanos, que não têm os olhos mais perspicazes que nós, souberam fazer dos produtos da História Natural da sua América um negócio de muito rendimento para eles e de muita utilidade para a Europa” (Ferreira, s.d., fl.33). Daí a importância conferida pelos irmãos e pelo próprio vice-rei do Brasil às pesquisas, ao cultivo e à utilidade da cochonilha na América portuguesa (Relatório..., 1812, p.473-474), pois, se a cultura fosse bem-sucedida, os portugueses não precisariam adquirir o corante de estrangeiros, estimulando a produção local, o seu comércio e, por conseguinte, o aumento da riqueza do Estado português.

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Além dos benefícios econômicos que tal estudo poderia trazer para Portugal e sua principal colônia – vantagens que conferem à História do descobrimento da cochonilha no Brasil... um lugar importante nas produções científicas a serviço do Reino –, outro mérito da obra esteve nas notas de rodapé, grande parte delas produzida por Henriques de Paiva na edição do manuscrito aqui transcrita, em que é possível encontrar um verdadeiro histórico dos estudos sobre a cochonilha, e mesmo de história natural, até aquele momento. O esforço do irmão mais novo para dar a conhecer esse produto era tamanho, que, em suas exaustivas notas, é possível encontrar desde afirmações como as de Pierre Pomet (1658-1699), farmacêutico francês o qual, na sua História geral das drogas (de 1694), dizia ser a cochonilha uma semente, ou as do naturalista holandês Anton van Leeuwenhoek (1632-1723), que, num primeiro momento, também definiu a cochonilha, depois de observá-la no seu famoso microscópio, como um fruto; passando por Charles Plumier (1646-1704), monge botânico francês que, na Descrição das plantas da América (de 1693), declarou ser a cochonilha um vivente; até as definições mais claras de cronistas espanhóis como Francisco Hernández de Toledo (1517-1587), padre José de Acosta (1539-1600) e Antônio de Herrera (1559-1625) e de outros homens de ciências como Nicolaas Hartsoeker (1656-1725), Philipe de La Hire (1640-1718) e Étienne Louis Geoffroy (1725-1810). Sem esquecer, é claro, a classificação de Carl von Lineu (1707-1778) no seu célebre Systema Naturae, de que Paiva chega a questionar algumas definições do conhecido naturalista sueco referentes à classe e ao corpo do inseto.

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As tentativas de publicação dos estudos sobre a cochonilha, ou partes deles, portanto, não foram poucas. Em 1774, o próprio Henriques Ferreira exprimia o desejo de imprimir sua Dissertação sobre a cochonilha..., com o intuito de difundir com mais eficácia as propriedades da cochonilha produzida no Brasil e as instruções para o seu desenvolvimento no reino e na colônia.5 No entanto, foi Henriques de Paiva quem buscou levar a cabo tal empreitada. Embora não seja possível afirmar a data precisa da elaboração da História do descobrimento da cochonilha no Brasil..., é provável que Henriques de Paiva tenha realizado a organização e a revisão da obra do irmão entre 1774 e 1801, período em que exerceu os cargos de demonstrador real da química (1773-1777) e de professor da cadeira de farmácia na Universidade de Coimbra (1801), atividades descritas na folha de rosto daquele que acreditamos ser o manuscrito original da obra, localizado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) (Ferreira, s.d.). Há, aliás, outro manuscrito da História do descobrimento da cochonilha no Brasil... sob a guarda da Academia das Ciências de Lisboa (ACL), que, muito provavelmente, é uma cópia revisada para ser impressa na coleção de memórias dessa instituição (Ferreira, 1780-1811). Apesar de essa versão não conter datação, sabemos que está anexada ao conjunto de memórias “que não tiveram lugar nas coleções da Academia” elaboradas entre 1780 e 1811. Ademais, encontramos a mesma referência presente no manuscrito do ANTT aos cargos exercidos por Henriques de Paiva, o que nos leva a crer que a cópia foi redigida pouco tempo depois do manuscrito original.

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Ao compararmos os dois manuscritos mencionados da História do descobrimento da cochonilha no Brasil... e o da Dissertação sobre a cochonilha..., de 1772, notamos que a versão do ANTT é a mais completa, contendo não só as notas de rodapé elaboradas por José Henriques Ferreira, como também aquelas formuladas por Manuel Henriques de Paiva. Além disso, o manuscrito do ANTT reproduz a mesma dedicatória ao marquês de Angeja (1716-1788), presente na Dissertação sobre a cochonilha..., solicitando a proteção necessária para a impressão. Tal dedicatória, vale destacar, talvez tenha sido suprimida no manuscrito da ACL pelo simples fato de que, àquela altura, este seria impresso nas Memórias organizadas pelos membros da Academia e, portanto, já não demandava a busca de um patrono. Ainda sobre nossa proposição de que a versão da História do descobrimento da cochonilha no Brasil... localizada na ACL seja uma cópia, é importante mencionar que, na escrita, encontramos palavras e frases invertidas e algumas passagens suprimidas ou complementadas, demonstrando, assim, tratar-se de uma transcrição do documento do ANTT.

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Nos séculos seguintes ao manuscrito, pois, foram localizados alguns poucos fragmentos publicados da História do descobrimento da cochonilha no Brasil.... O mais citado entre os estudiosos, e frequentemente confundido com uma transcrição desse documento, é o Sumário da História do descobrimento da cochonilha no Brasil, publicado por Henriques de Paiva, em 1814, no jornal O Patriota (Paiva, 1814, p.3-30). Esse Sumário..., como o próprio título sugere, tinha como propósito sintetizar os principais aspectos da história da cochonilha no Brasil. Uma centúria depois, foi publicada uma obra intitulada Coleção de opúsculos sobre a cochonilha. Esse documento da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) – sem data precisa, local e editor – possui apenas alguns trechos da Dissertação sobre a cochonilha... (Ferreira, 19--) de Henriques Ferreira; o restante provavelmente se perdeu. Assim, malgrado os esforços empreendidos por Henriques de Paiva e pelo próprio Henriques Ferreira, o trabalho na íntegra sobre a cochonilha, ou melhor, a História do descobrimento da cochonilha no Brasil... permanecia ainda em manuscrito.

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O documento que o leitor encontrará a seguir é, portanto, a edição inédita, modernizada e completa da História do descobrimento da cochonilha no Brasil..., elaborada a partir do cotejamento de dois manuscritos organizados por Manuel Joaquim Henriques de Paiva entre o final do século XVIII e o alvorecer do XIX.6 Tal edição baseou-se, pois, na transcrição do manuscrito matriz existente no ANTT e na inclusão de algumas passagens modificadas ou acrescentadas pelo editor da obra, e existentes apenas no documento da ACL.

+ + + + AGRADECIMENTOS +

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp n.17/01498-3) o financiamento das pesquisas que resultaram neste artigo; ao nosso grupo de pesquisa “Escritos sobre os Novos Mundos” (Fapesp n.13/14786-6), bem como à Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), à Academia de Ciências de Lisboa (ACL), ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) e ao Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ), instituições que forneceram os documentos utilizados na presente edição.

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+ + REFERÊNCIAS + + ARAÚJO, Ana Cristina (Coord.). A universidade pombalina: ciência, território e coleções científicas. Coimbra: Universidade de Coimbra. 2017. + + + + ARAÚJO + Ana Cristina + + Coord + + A universidade pombalina: ciência, território e coleções científicas + Coimbra + Universidade de Coimbra + 2017 + + + + DIAS, José Lopes. Duas cartas inéditas do Dr. José Henriques Ferreira, comissário do físico-mor e médico do vice-rei do Brasil, a Ribeiro Sanches. Imprensa Médica (separata). 1959. + + + + DIAS + José Lopes + + + Duas cartas inéditas do Dr. José Henriques Ferreira, comissário do físico-mor e médico do vice-rei do Brasil, a Ribeiro Sanches + Imprensa Médica (separata) + 1959 + + + + DIAS, Maria Odila da Silva. A interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda. 2005. + + + + DIAS + Maria Odila da Silva + + + A interiorização da metrópole e outros estudos + São Paulo + Alameda + 2005 + + + + DOMINGUES, Ângela. Para um melhor conhecimento dos domínios coloniais: a constituição de redes de informação no Império português em finais do Setecentos. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.8, supl., p.823-838. 2001. + + + + DOMINGUES + Ângela + + + Para um melhor conhecimento dos domínios coloniais: a constituição de redes de informação no Império português em finais do Setecentos + História, Ciências, Saúde – Manguinhos + 8 + supl + 823 + 838 + 2001 + + + + FERREIRA, José Henriques. Dissertação sobre a cochonilha; história do seu descobrimento na América Portuguesa. In: Coleção de opúsculos sobre a cochonilha. (Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa). [s.l.]: [s.n.] 19--. + + + + FERREIRA + José Henriques + + + Dissertação sobre a cochonilha; história do seu descobrimento na América Portuguesa + Coleção de opúsculos sobre a cochonilha + Biblioteca Nacional de Portugal + Lisboa + s.l + [s.n.] 19-- + + + + FERREIRA, José Henriques. História do descobrimento da cochonilha no Brasil da sua natureza, geração, criação, colheita e utilidades. Escrita por José Henriques Ferreira, filósofo e médico, sócio e correspondente da Academia Real das Ciências da Suécia, sócio da Academia Real da Medicina de Madrid, presidente e fundador da Academia de Medicina e História Natural do Rio de Janeiro. Publicada e anotada por seu irmão Manoel Joaquim Henriques de Paiva, sócio das mesmas academias, demonstrador real da química e mestre do Laboratório na Universidade de Coimbra, professor ordinário de farmácia e química etc. In: Memórias de física, e econômicas que não tiveram lugar nas coleções da Academia. t.2. Manuscritos da Série Azul, ms n.374, fl.315-347 (Academia de Ciências de Lisboa, Lisboa). 1780-1811. + + + + FERREIRA + José Henriques + + + História do descobrimento da cochonilha no Brasil da sua natureza, geração, criação, colheita e utilidades. Escrita por José Henriques Ferreira, filósofo e médico, sócio e correspondente da Academia Real das Ciências da Suécia, sócio da Academia Real da Medicina de Madrid, presidente e fundador da Academia de Medicina e História Natural do Rio de Janeiro. Publicada e anotada por seu irmão Manoel Joaquim Henriques de Paiva, sócio das mesmas academias, demonstrador real da química e mestre do Laboratório na Universidade de Coimbra, professor ordinário de farmácia e química etc + Memórias de física, e econômicas que não tiveram lugar nas coleções da Academia + t.2. Manuscritos da Série Azul, ms n.374, fl.315-347 + Academia de Ciências de Lisboa + Lisboa + 1780 + 1811 + + + + FERREIRA, José Henriques. Dissertação sobre a cochonilha. História do seu descobrimento na América Portuguesa, escrita por José Henriques Ferreira, médico pela Universidade de Coimbra e sócio da Academia de Suécia etc. etc. Oferecida Ao Ilmo. e Exmo. Sr. Marquês de Anjeja do Conselho de Sua Majestade Fidma. Presidente do Real Erário, inele seu Lugar Ten. e Inspetor da Marinha etc. etc. etc. BR RJANRIO RD.0.DAG.41 (Arquivo Nacional, Rio de Janeiro). [s.l.]: [s.n.] 1772. + + + + FERREIRA + José Henriques + + + Dissertação sobre a cochonilha. História do seu descobrimento na América Portuguesa, escrita por José Henriques Ferreira, médico pela Universidade de Coimbra e sócio da Academia de Suécia etc. etc. Oferecida Ao Ilmo. e Exmo. Sr. Marquês de Anjeja do Conselho de Sua Majestade Fidma. Presidente do Real Erário, inele seu Lugar Ten. e Inspetor da Marinha etc. etc. etc. BR RJANRIO RD.0.DAG.41 + Arquivo Nacional + Rio de Janeiro + s.l + s.n + 1772 + + + + FERREIRA, José Henriques. História do descobrimento da cochonilha no Brasil, da sua natureza, geração, criação, colheita e utilidades etc., escrita por José Henriques Ferreira, filósofo e médico, sócio e correspondente da Academia Real das Ciências da Suécia, sócio da Academia Real de Medicina de Madrid, presidente e fundador da Academia de Medicina e Historia Natural do Rio de Janeiro, etc., etc., etc.: Por M * J* H* P*, sócio das mesmas academias, demonstrador real da química, e mestre do Laboratório Químico na Universidade de Coimbra, profesor ordinário de farmácia e química etc., etc., etc. Manuscritos da Livraria, n.0758 (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa). s.l.: s.n. s.d. + + + + FERREIRA + José Henriques + + + História do descobrimento da cochonilha no Brasil, da sua natureza, geração, criação, colheita e utilidades etc., escrita por José Henriques Ferreira, filósofo e médico, sócio e correspondente da Academia Real das Ciências da Suécia, sócio da Academia Real de Medicina de Madrid, presidente e fundador da Academia de Medicina e Historia Natural do Rio de Janeiro, etc., etc., etc.: Por M * J* H* P*, sócio das mesmas academias, demonstrador real da química, e mestre do Laboratório Químico na Universidade de Coimbra, profesor ordinário de farmácia e química etc., etc., etc + Manuscritos da Livraria + 0758 + Arquivo Nacional da Torre do Tombo + Lisboa + s.l.: s.n. s.d + + + + FILGUEIRAS, Carlos A.L. As vicissitudes da ciência periférica: a vida e a obra de Manoel Joaquim Henriques de Paiva. Química Nova, v.14, n.2, p.133-141. 1991. + + + + FILGUEIRAS + Carlos A.L + + + As vicissitudes da ciência periférica: a vida e a obra de Manoel Joaquim Henriques de Paiva + Química Nova + 14 + 2 + 133 + 141 + 1991 + + + + FONSECA, Maria Rachel Fróes da. La construcción de la patria por el discurso científico: México y Brasil (1770-1830). Secuencia, n.45, p.5-26. 1999. + + + + FONSECA + Maria Rachel Fróes da + + + La construcción de la patria por el discurso científico: México y Brasil (1770-1830) + Secuencia + 45 + 5 + 26 + 1999 + + + + KURY, Lorelai. Homens de ciência no Brasil: impérios coloniais e circulação de informações (1780-1810). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.11, supl.1, p.109-129. 2004. + + + + KURY + Lorelai + + + Homens de ciência no Brasil: impérios coloniais e circulação de informações (1780-1810) + História, Ciências, Saúde – Manguinhos + 11 + 1 + 109 + 129 + 2004 + + + + MARQUES, Vera Regina Beltrão. Escola de homens de ciência: a Academia Científica do Rio de Janeiro, 1772-1779. Educar, n.25, p.39-57. 2005. + + + + MARQUES + Vera Regina Beltrão + + + Escola de homens de ciência: a Academia Científica do Rio de Janeiro, 1772-1779 + Educar + 25 + 39 + 57 + 2005 + + + + MORAIS, Francisco; DIAS, José Lopes. Estudantes da Universidade de Coimbra naturais de Castelo Branco. Coimbra: Tipografia Minerva. 1955. + + + + MORAIS + Francisco + + + DIAS + José Lopes + + + Estudantes da Universidade de Coimbra naturais de Castelo Branco + Coimbra + Tipografia Minerva + 1955 + + + + PAIVA, Manuel Henriques de. Sumário da história do descobrimento da cochonilha no Brasil, e das observações que sobre ela fez no Rio de Janeiro o dr. José Henriques Ferreira, médico do vice-rei o marquês do Lavradio. O Patriota, n.1. jan.-fev. 1814. + + + + PAIVA + Manuel Henriques de + + + Sumário da história do descobrimento da cochonilha no Brasil, e das observações que sobre ela fez no Rio de Janeiro o dr. José Henriques Ferreira, médico do vice-rei o marquês do Lavradio + O Patriota + 1 + jan.-fev + 1814 + + + + PAIVA... Paiva, Manuel Joaquim Henriques de. In: Dicionário histórico-biográfico das ciências da saúde no Brasil (1832-1930). Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Disponível em: <http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/paimanjohe.htm. Acesso em: 19 out. 2018. 2015. + + + PAIVA.. + + + + Paiva + Manuel Joaquim Henriques de + + + Dicionário histórico-biográfico das ciências da saúde no Brasil (1832-1930) + Rio de Janeiro + Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz + + http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/paimanjohe.htm + + Acesso em: 19 out. 2018 + 2015 + + + + PATACA, Ermelinda Moutinho. Coletar, preparar, remeter, transportar: práticas de história natural nas viagens filosóficas portuguesas (1777-1808). Revista Brasileira de História da Ciência, v.4, n.2, p.125-138. 2011. + + + + PATACA + Ermelinda Moutinho + + + Coletar, preparar, remeter, transportar: práticas de história natural nas viagens filosóficas portuguesas (1777-1808) + Revista Brasileira de História da Ciência + 4 + 2 + 125 + 138 + 2011 + + + + PITA, João Rui. Farmácia, medicina e saúde pública em Portugal (1772-1836). Coimbra: Minerva. 1996. + + + + PITA + João Rui + + + Farmácia, medicina e saúde pública em Portugal (1772-1836) + Coimbra + Minerva + 1996 + + + + RAMINELLI, Ronald. Viagens ultramarinas: monarcas, vassalos e governo a distância. São Paulo: Alameda. 2008. + + + + RAMINELLI + Ronald + + + Viagens ultramarinas: monarcas, vassalos e governo a distância + São Paulo + Alameda + 2008 + + + + RELATÓRIO... Relatório do marquês de Lavradio, vice-rei do Rio de Janeiro, entregando o Governo a Luiz de Vasconcellos e Souza, que o sucedeu no vice-reinado. Revista Trimensal de História e Geografia, ou Jornal do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. t.4. 1812. + + + RELATÓRIO.. + + Relatório do marquês de Lavradio, vice-rei do Rio de Janeiro, entregando o Governo a Luiz de Vasconcellos e Souza, que o sucedeu no vice-reinado + Revista Trimensal de História e Geografia, ou Jornal do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro + t.4 + 1812 + + + + RODRIGUES, José Damião. Horizontes de reformas e luzes: uma leitura historiográfica a partir da América portuguesa. In: Godoy, Scarlett O’Phelan; Rodríguez García, Margarita Eva (Coord.). El ocaso del Antiguo Régimen en los Imperios Ibéricos. Lima: Pontificia Universidad Católica del Peru; Lisboa: Cham. 2017. + + + + RODRIGUES + José Damião + + + Horizontes de reformas e luzes: uma leitura historiográfica a partir da América portuguesa + + + Godoy + Scarlett O’Phelan + + + García + Rodríguez + + + Eva + Margarita + + Coord + + El ocaso del Antiguo Régimen en los Imperios Ibéricos + Lima + Pontificia Universidad Católica del Peru + Lisboa + Cham + 2017 + + + + SERRANO, Ana Filipa Albano. The red road of the Iberian expansion: cochineal and the global dye trade. Tese (Doutorado em História dos descobrimentos e da expansão portuguesa) – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa. 2017. + + + + SERRANO + Ana Filipa Albano + + + The red road of the Iberian expansion: cochineal and the global dye trade + Tese (Doutorado em História dos descobrimentos e da expansão portuguesa) + – Universidade Nova de Lisboa + Lisboa + 2017 + + + + SERRÃO, José Vicente. O pensamento agrário setecentista (pré-fisiocrático): diagnósticos e soluções propostas. In: Cardoso, José Luís (Org.). Contribuições para a história do pensamento económico em Portugal. Lisboa: Dom Quixote. 1988. + + + + SERRÃO + José Vicente + + + O pensamento agrário setecentista (pré-fisiocrático): diagnósticos e soluções propostas + + + Cardoso + José Luís + + Org + + Contribuições para a história do pensamento económico em Portugal + Lisboa + Dom Quixote + 1988 + + + + SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Cultura letrada e cultura oral no Rio de Janeiro dos vice-reis. São Paulo: Editora Unesp. 2013. + + + + SILVA + Maria Beatriz Nizza da + + + Cultura letrada e cultura oral no Rio de Janeiro dos vice-reis + São Paulo + Editora Unesp + 2013 + + + + VENTURA, Antoine. Viajeros y naturalistas (s. XV-XIX, Europa-América) o cómo viajar sin precauciones por un tema torrentoso. ELOHI, n.9. Disponível em: <http://doi.org/10.4000/elohi.981. Acesso em: 19. jan. 2019. 2016. + + + + VENTURA + Antoine + + + Viajeros y naturalistas (s. XV-XIX, Europa-América) o cómo viajar sin precauciones por un tema torrentoso + ELOHI + 9 + + http://doi.org/10.4000/elohi.981 + + Acesso em: 19. jan. 2019 + 2016 + + + + WEHLING, Arno. O fomentismo português no final do século XVIII: doutrinas, mecanismos, exemplificações. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v.316, p.170-278. 1977. + + + + WEHLING + Arno + + + O fomentismo português no final do século XVIII: doutrinas, mecanismos, exemplificações + Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro + 316 + 170 + 278 + 1977 + + + + + NOTAS + + +

Para mais informações acerca da família de Manuel Henriques Ferreira, conferir, especialmente, Morais, Dias (1955).

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Manuel Henriques de Paiva foi demonstrador de química e história natural na Universidade de Coimbra, sócio, juntamente com o irmão e o pai, da referida Academia Científica, ocupando o posto de diretor de farmácia; foi, igualmente, sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, da Academia Real das Ciências da Suécia e da Academia Real de Medicina de Madri; ocupou as funções de médico da Casa Real e deputado ordinário da Real Junta do Proto-Medicato. Em 1808, foi preso por ordem do secretário de Estado dos Negócios do Reino, por ser considerado partidário das ideias napoleônicas, e, em 1809, foi sentenciado a cumprir degredo no Ultramar, ocasião em que regressou ao Brasil. De volta aos trópicos, Henriques de Paiva reconstituiu sua carreira; ocupou, em 1820, a cadeira de Matéria Médica e Farmácia no Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia e aqui permaneceu até o fim da sua vida. Cf. Morais, Dias (1955, p.232-250); Araújo (2017, p.99); Filgueiras (1991); Marques (2005); Paiva (2015).

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Arno Wehling (1977, p.171) destaca que o apogeu “da política fomentista em relação ao anil e à cochonilha situou-se entre 1769 e 1790”.

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A propósito da cultura da cochonilha na América e sua importância para o comércio dos impérios português e espanhol, conferir o estudo da historiadora Ana Filipa Albano Serrano (2017).

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Em carta de 1774, enviada do Rio de Janeiro a Lisboa para seu tio e médico Antônio Ribeiro Sanches, José Henriques Ferreira faz a seguinte afirmação acerca da sua dissertação: “Ultimamente este ano descobrimos a cochonilha em Santa Catarina e Rio Grande, que não sabiam o que era, ainda que as mulheres tingiam saias e lenços como lá; e a planta onde se criam os tais bichos remeti para Lisboa e aqui tenho no meu quintal a planta que me remeteram de Santa Catarina, na qual há poucos dias vi nascer, com grande gosto meu, muitos bichinhos, e depois de feitas mais algumas averiguações faço tenção [de] publicar sobre ela uma dissertação, pois o que muitos naturalistas têm escrito a respeito do modo da sua produção é errado e muito à parte” (Dias, 1959, p.9).

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Optamos por modernizar a linguagem dos manuscritos cotejados a fim de tornar a leitura da presente edição mais fluida. No entanto, tivemos sempre a preocupação de preservar as peculiaridades dos documentos. As inclusões de palavras, frases e símbolos foram sinalizadas e justificadas nas notas de rodapé.

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